Eu pensei em cortar o meu cabelo. Assim, bem curtinho, bem moderninho, bem como todo mundo diz que está na moda, que combina com o formato do meu rosto, que faz com que eu fique mais bonita. E eu até fiz um pouquinho disso por você. Cortei as pontinhas e depois um pouquinho mais, tudo para você me achar mais bonita, para você ficar satisfeito com a minha aparência, com o que você queria que eu fosse.
Mas então eu pensei, por quê? Se eu nao quero. É, você ouviu bem, eu nao quero. Não quero cabelos curtos. Nunca quis, nunca gostei.
Sempre quis ter o cabelo longo, quase chegando à cintura. Uma longa cachoeira de cachos e mechas, brilhosos e pesados. Uma cortina que escondesse todos os meus mistérios, tudo o que só quem transpor essa barreira vai conseguir descobrir. Não quero ser uma vitrine onde todos podem ver o que está no meu interior. Quero continuar quietinha, no meu cantinho, sendo discreta e falando baixinho. Somente me revelando para quem merecer, para quem conseguir conquistar a minha confiança e o meu coração.
O que a gente traz no interior não merece ser exposto de forma tão escancarada. É precioso e deve ser tratado como tal. Quero manter isso guardado bem fundo, sem tanta exposição, sem tantos holofotes. Manter a discrição, manter a compostura e preservar meu coração.
O meu cabelo representa esse lado que não conseguiu ser moderninha, ainda quer ser conservadora. Ainda quer manter os bons costumes, não os costumes tradicionais "de família", mas os bons costumes do amor, do carinho, do respeito e do pensar no próximo. Isso nunca deve sair de moda. Ficar na sua, aprender a ouvir, a aceitar o outro como ele é independente do comprimento ou da cor do seu cabelo. Isso para mim é tradicional, mas pensando bem, vendo como as coisas tem andado. Acho que está ficando cada vez mais moderno. Quem sabe eu não relanço essa moda? Eu e o meu cabelo.
