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Sobre saber se reerguer

02/08/2018 - Taíla Quadros
#texto de quinta #crônica #texto da semana #superação

A chuva caía lentamente e molhava com delicadeza as folhas do quintal. Da janela ela olhava as gotas escorrerem pelo vidro e pensava como tudo aquilo poderia ter acontecido, como ela podia ter sido tão cega e não agido antes. Seu peito doía, não uma dor real, mas aquela dor de aperto, aquela dor de algo que foi arrancado dali e não teve nada que se encaixasse no lugar. Há dias estava nessa inércia, sem saber aonde ficar, sem ter muita certeza de qual caminho seguir. Mas hoje não seria assim. Hoje, mesmo com esse tempo, mesmo não sendo segunda-feira, era o dia de começar, o dia de fazer diferente. E ela ia fazer.

 

Secou as lágrimas, as últimas que ela permitiria que caíssem a respeito daquele assunto. Depois de tanto tempo, decidiu que todo aquele sofrimento não valia a pena, que cada dia chorando em seu casulo era um dia perdido, menos um dia na sua vida para tentar conquistar a sua grande chance por causa dele, sempre ele. Aquele que vinha e paralisava, fazia faltar o ar e perder a fala. E fazia também com que ela perdesse tudo o que vinha na sequência.

 

Depois que ele vinha, tudo o que acontecia era branco, vazio. Quando ele ia embora, é que ela conseguia colocar a sua cabeça no lugar e tentar entender o que tinha acontecido. E, em seguida, vinha o choro, vinha a raiva, vinha a culpa. “Como ela não conseguia lutar contra ele? Como ela podia fica assim, sem reação nenhuma? Ela não tinha amor-próprio, por acaso?” Parecia que todos tinham, dentro da bolha de suas vidas perfeitas, uma solução perfeita para a sua situação. Como a vida podia ser tão cruel com ela? Como só com ela podiam acontecer essas coisas? Mas chega. Acabaram as lamentações, acabou o choro. Agora chegou o momento da luta, o momento do renascimento.

 

Sem adiar, ela pegou sua vontade, vestiu-se de coragem e decidiu enfrentar. Não mais dor, não mais sofrimento, nunca mais assumir culpas ou carregar pesos que não lhe pertenciam. Finalmente conseguiu conectar-se consigo mesma. Passou a ouvir seus sentimentos, sua intuição e a compreender quem ela realmente era. Munida de toda a sua energia interior, foi ao mundo enfrentar medos, descobrir novas habilidades, trilhar novos caminhos e libertar-se de tudo aquilo. A chuva não seria mais um problema, seria uma companheira, sábia e silenciosa, que sempre chega na hora certa. O vento lhe confortaria com seus abraços, gelados, mas sinceros e ela nunca mais seria prisioneira.

 

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